segunda-feira, 17 de março de 2014

A última ilha da Carga

Ah, as tribos isoladas! Esses pequenos paraísos para quem gosta de conhecer histórias e hábitos fantásticos!
Veja, por exemplo, o pessoal de Tanna, a ilha onde fica este vulcão aqui embaixo, no arquipélago de Vanuatu, no Pacífico Sul. Eles são os últimos praticantes de um tipo de culto religioso interessantíssimo, batizado pelos antropólogos como Culto à Carga.
sydneydawg2006 (CC BY-NC-ND 2.0)
O nome é estranho, mas é bem fácil de entender de onde ele saiu. A “Carga” não é uma forma diferente de chamar um deus conhecido nem o nome de uma divindade nova. Nada disso. Ela é exatamente o que parece ser: os produtos e equipamentos que navios e aviões cargueiros carregam por aí. A pura e simples bagagem mesmo.
10.mar.2014
Certa vez, um amigo que trabalha com comunicação no mercado de turismo me disse: “Você nunca vai conseguir ganhar dinheiro com o seu blog. Sabe por quê? Porque você gosta muito dele.”
Sauditas em Jerash, Jordânia. Foto: Gabriel Prehn Britto (CC BY-NC-SA 4.0)
É verdade. Eu gosto demais deste espaço. E ainda que todo este amor me ajude por um lado – me fazendo obcecado pela qualidade do conteúdo -, ele me atrapalha por outro, porque me faz impor limites que me impedem de ter o meu trabalho financeiramente remunerado pela forma mais comum em blogs, a publicidade.
3.mar.2014
Ao contrário do que a maioria das pessoas imagina e apesar de algumas restrições, a comunicação de um turista com o mundo exterior é bem fácil a partir do Irã.
Os principais provedores de e-mail – Gmail, Outlook e Yahoo – funcionam perfeitamente e ainda que o Skype e o Facebook sejam proibidos, o país é repleto de internet cafés com artimanhas tecnológicas que burlam o sistema e permitem que você converse com a família sem problemas. Além disso, se você levar o seu próprio computador (preparado ou não para enganar a censura), ainda pode usar o wi-fi disponível em muitos hoteis e restaurantes.
Já com o seu celular estrangeiro a coisa muda um pouco. Por motivos que não descobri, os chips de muitos países não funcionam em roaming por lá, obrigando o viajante a comprar um número local se quiser usar o seu telefone em terras persas.
17.fev.2014
Ela é o patinho feio de qualquer aventura pelo Irã. Roteiros de agências de turismo costumam dar apenas um par de dias para essa pobre coitada – se tanto. Desconfio que a maioria dos turistas que passam por ela o fazem apenas porque não descobriram que dá para voar direto do exterior para outras cidades iranianas. Enquanto eu pesquisava para a minha viagem, recebi dicas como “não perca seu tempo por lá, não vale a pena”.
Pobre Teerã.
Torre Azadi, símbolo de Teerã
A capital dos iranianos é realmente feia, caótica, barulhenta e poluída, tanto que vive marcando presença em rankings de “piores cidades do mundo para se viver”. Nisso, acho que não há discussão.
Mas também é fato que eu gostei muito da dita cuja. Gostei tanto que fiquei 4 dias inteiros nela e ainda tentei passar mais um, antes de embarcar de volta (mas não consegui, infelizmente).
11.fev.2014
Nem vou falar muito, porque não há muito para ser dito. Apenas veja estas lindas imagens da série An Iranian Journey, do multipremiado fotógrafo iraniano Hossein Fatemi.
A série completa mostra cenas complexas (e muitas também fortes) da realidade de um país impossível de ser compreendido por nós, porém muito, muito, muito longe de ser hostil aos ocidentais.
Aqui no blog, fique apenas com algumas que chocam pelo lado positivo e que mostram o Irã das pessoas que não têm nada a ver com aquelas que a maioria do mundo vê nas manchetes dos jornais.
Senhoras e senhores, com vocês, os iranianos.
3.fev.2014
Uma viagem a um lugar exótico é um poço sem fundo de momentos críticos. São tantos que o meu mantra é: em alguma hora, algo vai dar errado. Não tem como escapar disso.
Entre esse mundaréu de momentos delicados, existe um que tem a maior e mais clara chance de virar pesadelo. E como ele é importantíssimo, também tem potencial para estragar a imagem do destino, talvez até arruinar toda a viagem.
theloushe (CC BY-NC-ND 2.0)
Esse momento é a Chegada No País Diferentão.
27.jan.2014
Antes de começar, já peço perdão. É que no meio da correria da vida, esqueci de publicar aqui uma das mais incríveis pérolas da minha viagem pela Coreia do Norte: o vídeo de quase duas horas de duração que a Ryohaengsa, a agência estatal de turismo do país, faz para cada grupo de turistas e vende no final das suas jornadas.
São 107 minutos de efeitos especiais estilo vídeo de karaokê, musiquinhas estilo churrascaria, cenas de gosto extremamente duvidoso e muitas imagens de tudo que eu vi por lá, desde os monumentos grandiosos até o criadouro de tartarugas.
É uma maravilha, perfeito para entender o que é uma visita à Coreia do Norte e também para ver o país de uma forma raramente mostrada na mídia.
13.jan.2014
Dizem que o Irã é dificílimo de ser compreendido por alguém que não seja um iraniano ou que não viva lá por muito tempo. E eu acredito muito nisso.
Gabriel Prehn Britto (CC BY-NC-SA 2.0)
O correspondente da Folha de São Paulo em Teerã, Samy Adghirni, por exemplo, até já recomendou que seus leitores “desconfiem de quem diz que entende de Irã” e afirmou que ele mesmo “continua engatinhando” na compreensão do país – apesar de trabalhar com isso e já viver na capital iraniana desde 2011.
Ainda que a tarefa de entender os iranianos seja quase impossível, saber um pouco da história do país e do pensamento geral da população ajuda na compreensão mínima de algumas coisas. Principalmente, ajuda a apagar preconceitos.
Foi por tudo isso que resolvi fazer um post sobre estes assuntos antes de seguir adiante nos relatos da minha viagem por lá. Mas veja bem: é um resumo do resumo do resumo do resumo de tudo. É apenas um sopro de história. Mas vai ajudar a clarear algumas coisas para você. Acho.
Pegue um café, preste atenção e me avise se houver alguma bobagem, por favor. Não é difícil se perder em milênios persas.
31.dez.2013
Existe um lugar que eu guardei para apresentar a você justamente nesta época do ano.
Pablo Manriquez (CC BY-ND 2.0)
Esse lugar fica na África e é a ilha mais isolada do seu país, a Guiné Equatorial. Na verdade ele fica mais perto da ilhas de São Tomé e Príncipe e também do Gabão do que da parte continental da sua própria nação.
23.dez.2013
Vou confessar: eu morria de medo de visitar o Irã e fiquei tenso desde o momento em que percebi que a minha viagem estava finalmente saindo do plano dos sonhos para virar realidade.
Mas a minha tensão não tinha nenhuma relação com o medo que a maioria das pessoas tem quando pensa na terra dos aiatolás.
Ele não acreditou quando eu disse que a cena que eu via era linda
Depois de namorar o país por quase uma década, de ler tudo que eu consegui sobre ele e de conversar com uma pá de viajantes, eu não tinha o menor receio de ser sequestrado por um grupo fundamentalista, não tinha pesadelos com atentados, não tinha medo de ver minha mulher ser hostilizada nas ruas e não tinha o menor temor dos muçulmanos xiitas.
Meu medo era outro. Era de que o Irã não correspondesse às minhas expectativas.

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